Ano de dois mil e poucos, morava na praia do Flamengo, em um prédio que mais parecia um cortiço. Mas o ap era lindinho, todo reformado, de frente para a vista linda do Pão de Açúcar e com uma rede de fora a fora no janelão. ADORAVA morar ali, apesar do prédio e da vizinhança estranha, risos.
Por falar em vizinhança, eis que um belo dia estou eu chegando em casa e um cheiro horroroooooooooooooooso assombra o corredor. Como eram muitos apartamentos por andar não dava para saber bem de onde vinha. Comentei então com o porteiro e na volta uma vizinha falou que o fedor estava invadindo a casa dela. Deduzimos então que o futum estava vindo do apartamento de um senhorzinho que morava ao lado do ap dela. Eis que o porteiro sobe e os outros vizinhos do andar começam a sair para fora de suas casas, todos comentando sobre o aroma que parecia estar cada vez pior.
Começamos então solidariamente a dar água uns para os outros, servir cafézinho, vizinhos dos andares de baixo também começaram a subir e o furdunço foi formado. O porteiro igual barata tonta tocando a campainha da casa do velhinho, os irritadinhos querendo arrombar a porta pra ver o que houve e as desesperadas falando que o velho empacotou e devia estar há dias definhando dentro de casa. Geral imaginando a cena da porta se abrindo e o defunto caído no meio da casa, já verde e todo estragado.
Eu, louca e medrosa, já pensei logo que a alma do presunto devia estar rondando o andar. Ascendi então um incenso e comecei a pedir pra papai do céu levar ele em paz, afinal, era um senhorzinho fofo, educado e querido. Iria sentir falta do "bom dia" e "boa tarde" dele e dos elogios falando que eu estava bonita. Comentei com a doida do ap do lado: "Ah que tristeza! Não deve ter nem família pra dar falta dele! Morreu e ficou jogado dentro de casa, jorrando esse chorume de morte. Que dó!". Na mesma hora já neurotizei pensando que se eu morresse assim, quantos dias levaria pra minha mãe me achar. Será que eu ficaria fedendo dentro de casa também? Quem tinha a chave do meu ap pra ir lá me catar?
Por fim a polícia apareceu. Ficou um tempo no arromba, não arromba, até que o policial deu um pontapé e a porta caiu. Todos se empoleirando pra ver e eu paralisada na porta da minha casa com medo de ver a cena. Até que ouve-se um "puta que pariu" de dentro do apartamento do velhinho. Na hora pensei que o defunto devia estar pelado caído no chuveiro. Mas para alegria geral da nação do cortiço da praia do Flamengo, o odor desagradável que se espalhou pelo prédio era de uns 10 kilos de carne que estava estragada dentro da geladeira do vovôzinho. Ele viajou, a geladeira pifou, a carne definhou e o futum tomou conta! E geral matando o coitado que ainda ficou sem porta, rsrs. Seria cômico se não fosse trágico! Essa é minha vida, esse é meu mundo, rsrsrsrsrs.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Curtiu? Qualquer identificação não é mera coincidência!