sábado, 10 de novembro de 2012

O defunto que virou carne

Ano de dois mil e poucos, morava na praia do Flamengo, em um prédio que mais parecia um cortiço. Mas o ap era lindinho, todo reformado, de frente para a vista linda do Pão de Açúcar e com uma rede de fora a fora no janelão. ADORAVA morar ali, apesar do prédio e da vizinhança estranha, risos.

Por falar em vizinhança, eis que um belo dia estou eu chegando em casa e um cheiro horroroooooooooooooooso assombra o corredor. Como eram muitos apartamentos por andar não dava para saber bem de onde vinha. Comentei então com o porteiro e na volta uma vizinha falou que o fedor estava invadindo a casa dela. Deduzimos então que o futum estava vindo do apartamento de um senhorzinho que morava ao lado do ap dela. Eis que o porteiro sobe e os outros vizinhos do andar começam a sair para fora de suas casas, todos comentando sobre o aroma que parecia estar cada vez pior. 

Começamos então solidariamente a dar água uns para os outros, servir cafézinho, vizinhos dos andares de baixo também começaram a subir e o furdunço foi formado. O porteiro igual barata tonta tocando a campainha da casa do velhinho, os irritadinhos querendo arrombar a porta pra ver o que houve e as desesperadas falando que o velho empacotou e devia estar há dias definhando dentro de casa. Geral imaginando a cena da porta se abrindo e o defunto caído no meio da casa, já verde e todo estragado. 

Eu, louca e medrosa, já pensei logo que a alma do presunto devia estar rondando o andar. Ascendi então um incenso e comecei a pedir pra papai do céu levar ele em paz, afinal, era um senhorzinho fofo, educado e querido. Iria sentir falta do "bom dia" e "boa tarde" dele e dos elogios falando que eu estava bonita. Comentei com a doida do ap do lado: "Ah que tristeza! Não deve ter nem família pra dar falta dele! Morreu e ficou jogado dentro de casa, jorrando esse chorume de morte. Que dó!". Na mesma hora já neurotizei pensando que se eu morresse assim, quantos dias levaria pra minha mãe me achar. Será que eu ficaria fedendo dentro de casa também? Quem tinha a chave do meu ap pra ir lá me catar?

Por fim a polícia apareceu. Ficou um tempo no arromba, não arromba, até que o policial deu um pontapé e a porta caiu. Todos se empoleirando pra ver e eu paralisada na porta da minha casa com medo de ver a cena. Até que ouve-se um "puta que pariu" de dentro do apartamento do velhinho. Na hora pensei que o defunto devia estar pelado caído no chuveiro. Mas para alegria geral da nação do cortiço da praia do Flamengo, o odor desagradável que se espalhou pelo prédio era de uns 10 kilos de carne que estava estragada dentro da geladeira do vovôzinho. Ele viajou, a geladeira pifou, a carne definhou e o futum tomou conta! E geral matando o coitado que ainda ficou sem porta, rsrs. Seria cômico se não fosse trágico! Essa é minha vida, esse é meu mundo, rsrsrsrsrs.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"Pra começar, quem vai colar os tais caquinhos..."

Inventamos esse blog há maior tempão mas escrever que é bom, neca! Bom, não sei o porquê mas resolvi dar primeiro passo hoje. E já que a intensão é dividir experiências (e fazendo a fita do nome do bloguito), o assunto do primeiro post é: morar sozinho é bom demais!

Moro sozinha (sem família) na "cidade mára" há 14 anos! Nossa! Como passa rápido! Meu primeiro pouso foi no bairro Flamengo, onde dividi um quarto e sala com duas amigas. Três mulheres morando em um apartamento pequeno... Não deu certo, nem precisava escrever isso, rs. Mas a experiência foi ótima! Passei momentos inesquecíveis naquele "ap", como levar minha primeira multa por barulho e pegar uma das minhas roommates dando no quarto pra um carinha da faculdade, enquanto o encanador consertava a pia da cozinha... Época boa aquela que a gente só queria saber de festa, faculdade, mais festa, comer macarrão, mais festa e estágio. Durou dois anos a brincadeira com as colegas. Os seguintes foram eu, comigo mesma. O que mudou de lá pra cá? A faculdade infelizmente acabou, o macarrão virou kilos acumulados na barriga e o estágio teve que virar emprego fixo porque hoje não é mais papai que paga tudo.

Poderia morar com minha mãe e economizar dinheiro? Sim. Com esse dinheiro poderia ter viajado mais e até ter um carro? Talvez sim. Se me arrependo? Sem dúvida não. Valeu cada centavo gasto para viver sozinha no RJ. Nesse caminho de quase uma década e meia já teve crise de ansiedade, desespero, muito choro, brigas com namorados e porta-retratos quebrados no chão, febre de 40 graus sozinha na cama, ressacas físicas e morais, cozinhas alagadas, geladeiras quebradas, muita comida estragada, potes indo para o lixo por nojo de lavar, lâmpadas queimadas, porteiros santos, amigos que passaram e amigos que ficaram. Aprendi a me virar, cozinhar (poucas coisas, ok), tirar mancha, escolher fruta na feira, ir sozinha no médico com febrão, fazer sopa, vitamina, economizar luz, água, gás, telefone, dividir espaço, emprestar coisas, limpar casa, ter mais responsabilidade, cuidar de uma gatinha e por aí vai. Pra quem lê pode parecer pouco ou balela. Mas cada momento de dor, sofrimento ou felicidade, alegria, contou muito e valeu muito a pena!

Hoje, aos 33 anos, depois de cair e levantar várias vezes, passar por vários perrengues, agir impulsivamente, ser quase sempre ansiosa e espontânea, não tenho do que reclamar. Cada experiência contou e ainda conta como aprendizado para reafirmar quem eu sou e o que eu quero. Não são poucas! E certamente não teria chegado nesse estágio de maturidade, sabedoria ou até neurose (seja lá o que for é bom!), se ainda estivesse morando debaixo da barra da saia da mamãe. Tive e tenho muito culhão para bancar essa vontade, porque não foi nada fácil sair de uma cidade pequena, onde todo mundo se conhece, aos 19 anos, com uma mentalidade interiorana e super mimada. Ainda não sou nem tenho tudo que desejo. Mas vivendo um dia de cada vez, conseguindo me bastar e preencher sozinha meu vazio, sei que vou chegar lá.

Que esse blog sirva para relatar essas histórias antigas e novas sobre morar sozinho, trocar ideias, sonhos, angústias, alegrias e "causos", muitos "causos" sobre a vida. Vem comigo! Risos.